A Modernização dos Termos
Não sei por que tantas novas palavras surgem para substituir nomes que já existiam. A modernização transformou “trabalho em grupo” em “dinâmica em grupo”, “bate-papo” em “network”, “resposta” em “feedback” e muitos outros.
Agora, me diga: o que há de errado com o termo “trabalho em grupo”? O que leva alguém a decidir que precisa mudar isso? O que me vem à cabeça é que, num belo dia, algum ocupadíssimo senhor ou senhora pensou: “Cansei desse nome. Agora vai ser dinâmica em grupo, e ninguém mais fala sobre isso.”
E o velho e tradicional bate-papo? Aquele na hora do cafezinho, das reuniões, do happy hour e do futebol das quartas-feiras? Como fica? Não fica. Não pode continuar. “Bate-papo” é um termo chulo, que não impressiona nem uma criança de cinco anos. Então, vestiram uma roupa nova nele, um terno e gravata naquele que só usava regata.
E o “feedback”? Este chegou e aniquilou de vez a simples “resposta”, “retorno”, “te falo já”, “volto já à ligação”. Esse deve ter surgido quando alguém simplesmente pensou: “Agora vou bagunçar de vez. Até que aprendam a pronunciar isso, muitas cabeças vão rolar.”
Mas o que realmente me surpreende é o tal de “melhor idade”. A criatura que teve a genial ideia de sugerir que a velhice é a “melhor idade” com certeza nunca viveu essa experiência.
Esse termo, provavelmente, surgiu numa mesa de bar, criado por uma rapaziada de 30 anos. E pegou rápido. Aqui no Brasil, essas brincadeiras colam, lembram do Macaco Tião?
Como me encontro nessa faixa etária, não por escolha, mas por força da natureza, vou expandir as justificativas. Afinal, quem apanha nunca esquece.
A rapaziada deve ter argumentado: “Ah, mas há muitas vantagens em ser enquadrado nesse seleto grupo.” Quais? Ficar no ponto de ônibus balançando uma carteirinha para o motorista, que diminui a velocidade só para acelerar e te deixar plantado como um poste? Servir de ponto de referência: “Ali, meu filho, logo atrás daquele senhor de camisa volta ao mundo?” Não vejo vantagem alguma. Nunca vi ninguém torcendo para chegar logo aos 80 anos para comprar um andador e comer papa.
E se você for da “melhor idade” e liso, com a polpuda aposentadoria que recebemos, desbanca qualquer estrategista ao traçar um plano para comprar medicamentos e alimentação com 1 salário mínimo. Note que nem falei em lazer. Lazer? Essa turma já está nele. Afinal, é ou não é a “melhor idade”?
Apesar de tudo isso, alguém te taca essa nomenclatura na cara. Quer trocar, amigo?
A “melhor idade” seria poder fazer todos os anos uma viagem dos sonhos. Receber filhos e netos para um churrasco com picanha de verdade. Pagar os estudos do netinho que sabiamente ganhou o seu nome. Assistir ao futebol do seu time do coração na TV fechada — que, no meu caso, está fechada há muito tempo. O que resta? Prolongar a soneca após o almoço e torcer para encontrar um conhecido na fila do pão para pôr as “novidades” em dia. Novidades? Que novidades?
E quando você é agraciado com o combo completo: velho, liso e com dívidas? Aí, meu amigo, não há escapatória. Só resta rezar muito para tirar a Mega da Virada. Então, num passe de mágica, você se torna lindo, charmoso e o melhor ser humano do planeta, quiçá do universo.
O provérbio “dinheiro não traz felicidade” deve ser de autoria do mesmo gênio que criou o termo “melhor idade”. Vamos torcer para não conhecer tal figura e continuar rindo com cautela, para a dentadura não cair.
Agora vou para minha rede. Entre um balanço e outro, vou procurar uma maneira de trocar o folclórico nome “mula sem cabeça” por “equino decapitado”. Conto com o seu engajamento.