Ceia de Natal
Faltando poucos dias para a Ceia Natalina, o dilema em algumas famílias abastadas é completamente diferente da grande maioria que existe desse lado do equador.
As dúvidas ficam restritas a onde vamos passar a Noite de Natal: Lisboa, Paris, na mansão dos Silvas ou no Copa (rico tem a mania de encurtar palavras). E a programação já se estende até a Virada.
A roupa não preocupa. Uma voltinha no shopping e o “lookinho” da noite está resolvido, mesmo com o closet abarrotado dos mais diversos modelitos. Do sapato à bolsa, tudo novo e da melhor marca. E ainda pensam: “Vou deixar a Silvinha babando!”
As preocupações desse seleto grupo estão em “outro patamar”, como disse um jogador de um famoso time, muito distante de nós, simples mortais dependentes do SUS. O mundo é imensamente diferente. Tiro por mim, que ainda estou na dúvida entre o peru e o porco. O suíno leva vantagem pelo preço, porém, se ele for o escolhido, sobra o peru, que cisca pra trás e, segundo minha querida e saudosa mãe, dá muito azar comer na entrada de ano esse tipo de criatura com tração traseira. Por ela, comíamos atum, o peixe mais veloz de todos os mares. Assim, tudo fluiria rapidamente no novo ano.
Ainda pensei em filé ou bacalhau, mas meus rins, já com 66 anos de uso, não cobririam tal investimento. A picanha nem cogitei, pois todos os meus órgãos juntos não dariam para pagar uma relíquia de tal monta.
Estou para terminar esse desabafo, e a dúvida continua. Resta a esperança de um convite de um parente ou amigo, caso muito raro pela minha idade. E sem dinheiro? Esqueça convite.
Vamos passar para a parte boa: a roupa. Sem problema e facilmente escolhida: a mesma dos anos anteriores. Se alguém fizer algum comentário, a resposta já está pronta: “Pra você ver, mantenho o mesmo manequim há três anos.”
Este Natal não será como os outros. Trocaria tudo: peru, porco, roupa nova, virada no Copa… pela presença da nossa pet Julieta, que nos deixou há poucos dias. Como eu, ela também repetiria sua roupa: um lindo vestidinho da Minnie, como fez durante tantos anos.
Viva o peru, o porco e a saudade.
Feliz Natal pra todos. Com ou sem peru.